15 jan Dicas Nutricionais na Cirurgia Bariátrica
Muito pouco se encontra na literatura sobre um acompanhamento nutricional objetivando uma nutrição celular adequada. A maior parte das bibliografias se referem, ao indicar a alimentação dos pacientes operados, à consistência das dietas, à necessidade de mastigação exaustiva para o sucesso das cirurgias e à quantidade calórica e de gordura da dieta. Indiscutível que esses fatores são muito importantes, porém, para que se proporcione uma perda de peso efetiva e estável, ao mesmo tempo que se promova uma qualidade de vida gerando um bem estar físico, mental e emocional, é determinante se lembrar da individualidade bioquímica, da qualidade nutricional da alimentação e das suplementações nutricionais. Também é necessário ainda o cuidado para que estes nutrientes, tanto da alimentação quanto da suplementação estejam biodisponíveis, isto é, sejam efetivamente utilizados pelas células, e não que apenas sejam ingeridos, havendo o risco de trocar os problemas que existem com o sobrepeso com os riscos de desnutrição.
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL PRÉ-CIRÚRGICO:
Só o profissional nutricionista tem embasamento para fazer o acompanhamento nutricional que deve se iniciar antes da cirurgia pois, um indivíduo que se submete à uma cirurgia bariatrica, seja ela qual for, já vem de uma serie de tentativas frustradas para emagrecer, submetendo-se a todos os tipos de desequilíbrios nutricionais, e na maior parte das vezes, enxerga na cirurgia o milagre procurado a vida inteira, achando que depois da operação não precisará mais de preocupar em fazer dieta. É determinante o acompanhamento nutricional para detectar erros alimentares existentes, carências nutricionais, interrelacionar os mesmos com os sintomas apresentados pelo paciente e esclarecer o papel do hábito alimentar adequado e dos nutrientes na saúde física, mental e emocional e também na prevenção das doenças e não simplesmente o “alimento como o que engorda ou emagrece”.
A própria cirurgia gera um estresse tanto físico, quanto emocional, levando à carências mais acentuada dos nutrientes que precisam gerenciar estes desgastes. Somando-se a estes fatores, a alimentação que se segue à cirurgia deve ser liquida e em pequenas quantidades, dificilmente atingindo até mesmo o metabolismo basal. Daí a necessidade em suplementar nutricionalmente, pois só com a alimentação fica inviável atingir um mínimo necessário dos nutrientes essenciais para manter as funções orgânicas.
O ideal é que a suplementação se inicie antes do processo cirúrgico, visando:
- corrigir os desequilíbrios entre os nutrientes, que provavelmente vem de longa data;
- estimular as defesas do organismo, evitando as infecções;
- melhorar a cicatrização e reduzir riscos de efeitos colaterais da cirurgia e de desnutrição, prevenindo inclusive anemias e depressão fisiológica;
- Favorecer a integridade da parede intestinal para haver uma melhor absorção dos nutrientes ingeridos, prevenir a absorção de xenobióticos e macromoléculas ( que podem gerar alergias alimentares) e ainda garantir uma melhor produção de neurotransmissores pela parede intestinal. Para tanto, na maior parte dos casos, é necessária a suplementação de pré e probióticos e de nutrientes que são matéria-prima para a formação e boa manutenção da mucosa intestinal como zinco, àcido-fólico, vitamina A, entre outros, assim como em determinados casos a L-glutamina. A utilização da gordura como energia pelo organismo depende da presença de vários outros nutrientes, e muitas vezes a dificuldade deste processo pode estar sendo determinado pelas carências nutricionais. Os excessos podem contribuir para aumento de gordura corporal, porém as carências não deixam que a gordura já acumulada seja utilizada efetivamente, favorecendo a uma utilização maior da massa magra como energia e conseqüente perda de líquidos, diminuindo o peso total na balança, porém sem redução efetiva da gordura corporal.
ORIENTAÇÃO ALIMENTAR PÓS CIRÚRGICA:
Normalmente, nos dois primeiros dias, o paciente segue a rotina hospitalar com ingestão de líquidos como água, chás, água de côco ou sucos diluídos sem sacarose.
Seja qual for a técnica utilizada na cirurgia, a consistência da alimentação, que se segue à operação, deverá ser líquida, objetivando o não rompimento das suturas que levarão tempos variáveis para a cicatrização. A mudança gradual da consistência da alimentação também têm como objetivo “treinar” o paciente na mastigação e nas suas escolhas, ajudando-o a adaptar-se a um novo hábito alimentar, e não apenas fazer mais uma “dieta”. Este primeiro mês de alimentação mais líquida e cremosa também auxilia numa desintoxicação do organismo. Apesar de existir uma rotina alimentar pós-operatória, a mesma será sempre determinada pela individualidade bioquímica e social do paciente, adaptando o ideal à realidade para que as orientação sejam realmente seguidas. Às vezes, a mudança de consistência da alimentação tem que ser revista.
O ideal é que o paciente seja acompanhado mensalmente nos primeiros 6 meses, para depois, em conjunto com o mesmo estabelecer a freqüência do acompanhamento.
CONSISTÊNCIA DA ALIMENTAÇÃO:
- Durante os 15 dias iniciais a consistência deve ser liquida e os sucos e sopas devem ser coados para não correr o risco de obstruir ou dificultar o esvaziamento gástrico.
- Na Segunda quinzena manter a consistência cremosa e os sucos e sopas coados.
- Na Terceira quinzena manter a consistência pastosa, utilizando-se de purês, frutas amassadas ou raspadas.
- Na Quarta quinzena, consumir os alimentos bem moles.
- Da Quinta quinzena em diante, já pode manter a consistência normal.
- É necessário lembrar, a cada etapa, que a determinação da aceitação do alimento pelo organismo, evitando náuseas e vômitos, é a mastigação adequada. Portanto, o ideal é “comer” o líquido e “beber” o sólido.
- Nas cirurgias restritivas e disabsortivas tem que existir um cuidado maior para não se ingerir sacarose demasiadamente, evitando assim a síndroma de dumping.
CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A ORIENTAÇÃO ALIMENTAR:
No café da manhã, lanches (manhã e tarde), usar sucos de frutos naturais (ou polpa congelada), vitaminas utilizando só frutas ou acrescentar legumes e verduras cruas. Nos intervalos das refeições (que varia dependendo da etapa do pós-operatório), hidratar-se muito bem (inclusive para se evitar formação de pedras nos rins), utilizando-se de água, água de côco, sucos diluídos e chás (ervas, flores e frutas). Evitar a utilização de produtos com alta quantidade de químicos como sucos de pacotinhos, isotônicos industrializado, gelatinas prontas, temperos prontos etc… É importante lembrar que o consumo de alimentos é extremamente limitado, portanto o pouco de “matéria-prima” que oferecemos deve ser de primeira qualidade.
No almoço e jantar utilizar um pouco dos alimentos de cada grupo, deixando a consistência adequada à cada etapa.
No primeiro mês de alimentação pós-cirurgica não há ingestão adequada de fibras, sendo determinante a suplementação de fibras solúveis, (por ex. goma guar) para manter a integridade funcional da parede gastrintestinal. Estas fibras não alteram nem a consistência nem o sabor dos alimentos, sendo de fácil aceitação pelo paciente. Além de evitar a atrofia do íleo e do cólon, as fibras solúveis também ajudam a retardar o esvaziamento gástrico, auxiliando na manutenção da glicemia.
COMPOSIÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO:
Além dos pró e prébioticos e das fibras solúveis já comentamos, a alimentação e suplementação do paciente deve sempre manter os macros e micronutrientes em equilíbrio para manutenção das funções físicas, mentais e emocionais. Deve-se lembrar sempre que os nutrientes são a fonte natural de formação das moléculas que constituem e mantém o funcionamento adequado do nosso organismo. É muito comum pacientes pós cirúrgicos desenvolverem depressão ou mesmo, ter exacerbada uma ansiedade que não deixa ele “pensar” na hora de se alimentar, levando a constantes vômitos e diarréias, pois como já foi visto a mastigação adequada é determinante. Na maior parte dos casos estas alterações emocionais são funcionais isto é, ou há carências dos nutrientes que formam os neurotransmissores e neuromoduladores, ou não há energia suficiente para manter glicose regular para o sistema nervoso central, ou mesmo carência de lipídeos responsáveis pela condução dos impulsos nervosos, modulando a atividade neuronal. Portanto, cuidado nutricionalmente para se evitar o estresse fisiológico, existe uma alta possibilidade de se lidar melhor com o estresse emocional.
É importante considerar todo o estresse já comentado e o próprio emagrecimento que, juntamente com mobilização das gorduras, aumenta a liberação de metais tóxicos e geração de radicais livres. É fundamental a suplementação de nutrientes antioxidantes como Zn, Se, Mn, Cu, Vit. C, Alfatocoferol, Betacaroteno; Estes nutrientes também tem ação primordial em ativar o sistema imunológico.
É determinante a presença regular dos nutrientes precursores de neurotransmissores como Mg e Vit. B6, principalmente, assim como as vitaminas do complexo B como um todo. A vit. B3, por exemplo, preserva o triptofano para a formação da serotonina.
O cromo é essencial para o metabolismo das gorduras e dos carboidratos. Pacientes obesos apresentam freqüentemente uma resistência celular à insulina. A presença dos nutrientes que regulam estes processos como vanádio, cromo e fibras podem reduzir essa resistência, favorecendo uma produção adequada de energia, corrigindo as disglicemias e evitando a Síndrome X (Síndrome Plurimetabólica). A própria glicina usada no preparo dos quelatos, a taurina e o molibdênio são nutrientes essenciais para melhorar a eliminação de toxinas do organismo.
As vitaminas e minerais interagem o tempo todo. A suplementação mais adequada é aquela que leva todos esses fatores em consideração e seja a mais completa possível, de preferência um complexo de vitaminas e minerais, adequando as quantidades e promovendo uma sinergia entre estes nutrientes, e dos mesmos com os macronutrientes. É importante lembrar que a forma mais adequada de absorção dos minerais é na forma quelada pois aumenta a chance de absorção do mineral pois ele acaba sendo absorvido nas mesmas condições dos dipeptídeos, driblando os problemas gerados , por exemplo, pelas cirurgias desabsortivas e pela competição dos nutrientes com as drogas ingeridas em grande quantidade por esses pacientes, incluindo aquelas drogas que neutralizam o meio ácido do estômago.
QUAL A MELHOR FORMA DE SUPLEMENTAÇÃO?
Além de se preocupar com a quantidade da suplementação, precisa existir uma adequação para que o suplemento consiga ser ingerido, podendo estar na forma líquida, em pó para ser diluída ou em cápsulas bem pequenas para passar pelo estômago.
Provavelmente a suplementação vai ser mantida até o paciente atingir o seu melhor estado de saúde física, mental e emocional, sendo este tempo variável e determinado pela individualidade. Os pacientes que fizeram as cirurgias desabsortivas provavelmente vão sempre precisar de determinadas suplementações, principalmente dos nutrientes cuja absorção foram comprometidas na cirurgia.
Para mais dicas, siga nosso instagram @nutriskinbrasil e Facebook da Nutriskin