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Nutrição e COVID 19

Nutrição e COVID 19

Estamos enfrentando uma verdadeira guerra que certamente iremos vencer. Eu tenho certeza disso.

A pandemia de Coronavírus está se alastrando, bem como as fakenews, informações incorretas  e como consequência, a angustia e o pânico.

Fica claro, nesse momento, que a Ciência é soberana e deve ser o foco de investimentos e pesquisas de ponta. Somos Ciência. Precisamos da Ciência. Adoecemos por falta da Ciência.

A Nutrição é vítima da desinformação. Infelizmente, não existe nenhum alimento isolado que melhore imunidade e que combata ou proteja desse vírus.

Nas últimas semanas as redes sociais foram tomadas por posts com shots e soros da imunidade, compostos, chás, cápsulas supostamente milagrosas e dietas incríveis que melhorariam a imunidade. A verdade, contudo, não é essa.

Estamos no mesmo barco e meu objetivo é promover a saúde com coerência, sem achismo e com argumentos baseados em estudos bem delineados.

Nesses dias de “ enclausuramento”, vamos viver estresse, incertezas e tédio.. Eu sei que é difícil, mas temos que cuidar mais do que nunca da nossa saúde. Por isso, muito cuidado com o excesso de álcool, doces e outros alimentos que não apenas não ajudam, como podem piorar nossa imunidade.

Não é época de mudanças drásticas. Não é época de começar dieta. Não vamos inventar moda.

É fundamental que mantenhamos os exercícios físicos . Sabe-se que quatorze dias de inatividade física já pode trazer prejuízo neuromuscular e perda de massa magra.

Nosso gasto energético diário, nessa quarentena, vai estar reduzido. Consequentemente, temos controlar a ingestão calórica para não criamos um ambiente de superávit energético e ganho de peso. Não queremos mais um problema.

Procure seu Nutricionista.

O sistema imune é responsável pela defesa corporal contra doenças infecciosas . Sabe-se que uma boa nutrição é capaz de atuar no sistema imune, melhorando nossas defesas e nos fornecendo proteção.

Muitas pessoas estão recorrendo a multivitamínicos e minerais, entretanto NÃO se recomenda a prescrição destes de forma isolada. Os estudos são fracos e inconclusivos. Além disso o excesso de vitaminas e minerais, de forma suplementar, pode trazer um prejuízo para nossa saúde.

O que temos de evidência e segurança nutricional é que o amplo consumo de frutas, verduras, hortaliças e vegetais pode modular nosso sistema imune.

Não é hora de ir em busca de fórmulas mágicas. Vamos ficar em casa, mas com o máximo de saúde física e mental.

Vou falar um pouco da teoria.

Um ensaio clinico randomizado, com 83 idosos, publicado no American Jornal Clinical Nutrition, avaliou por 16 semanas o consumo dietético e sistema imune dessa amostra . O estudo demonstrou que o consumo de 5 porções de frutas e verduras foi capaz de aumentar marcadores bioquímicos, melhorando a imunidade.

A vitamina C, que é utilizada desde a década de 1970, na tentativa de prevenção de gripes e resfriados , ainda é controversa.

Uma metanálise reunindo 20 estudos s e 11 mil participantes, demonstrou que o consumo de 200 mg de Vitamina C não tem efeito protetor em pessoas saudáveis. Apenas em condições adversas, como, por exemplo, em temperaturas negativas, constatou-se uma melhora modesta dos sintomas gripais

Vamos consumir os alimentos ricos em Vitamina C.

Outro nutriente sobre o qual se fala muito é o ômega 3. Embora poucos estudos associem o consumo de ácidos graxos poli-insaturados e imunidade, pode-se recomendar o consumo de fontes como semente de linhaça, chia e peixes de água fria ( atum, sardinha, salmão)

Vejo muita gente prescrevendo e tomando Glutamina. Novamente faço a pergunta? O que está por trás dessa conduta ?

A glutamina é o aminoácido mais abundante no nosso organismo , e nossas celulas imunes precisam dela. Até aí temos uma teoria muito boa. Entretanto, na prática, não percebemos nenhum benefício. A glutamina não protege e não melhora nosso sistema imune. Aliás, muitas coisas são assim na Ciência: teoricamente funcionam, mas, na prática não vemos resultados.

A glutamina não apresenta efeito imunoprotetor em pessoas saudáveis . Destaco que , em casos isolados, a suplementação de glutamina pode ser interessante desde que seja consultado um Nutricionista.

E o própolis ? Temos apenas estudos escassos, realizados em modelos animais, que não fornecem resultados que sustentem sua prescrição em forma de suplemento. São necessários estudos que relacionem a composição química com a atividade biológica, pois assim seria possível correlacionar o tipo de própolis com a sua aplicação terapêutica.

Então o que realmente pode ajudar?

Os únicos suplementos que possuem um moderado embasamento para prescrição são probióticos e vitamina D ( EM QUEM TEM DEFICIÊNCIA)

Nos últimos anos, as informações indicam que os probióticos (em grego “pró-vida”) , além de regularem a microbiota intestinal, possuem efeito imunomodulador.

Os probióticos são microrganismos vivos que atuam no balanço da microbiota, conferindo benefício à saúde do hospedeiro.

Os prebióticos, por sua vez, são fibras alimentares que afetam beneficamente o hospedeiro, estimulando a proliferação de bactérias desejáveis. Exemplos de alimentos prebióticos : Chicória, cebola, alho, banana.

Acho importante salientar que o intestino é um órgão fundamental para nossa imunidade e um consumo adequado de fibras e prebióticos, associado a uma ingestão adequada de água, pode ajudar na nossa imunidade.

Deixo claro que o consumo de probióticos e prebióticos pode ser via dietética e não via suplementação . A suplementação deve ser sob orientação de um nutricionista e apenas se existir necessidade.

A vitamina D, que é atualmente é considerada um hormônio, deve ser suplementada em pacientes que apresentem deficit dessa vitamina.

TODA SUPLEMENTAÇÃO DEVE SER PRESCRITA SOB ORIENTAÇÃO DO SEU MÉDICO E OU NUTRICIONISTA.

O que posso afirmar é que uma ingestão inadequada de nutrientes pode trazer prejuízos à defesa celular. Não podemos ter um ambiente de deficiências ou carências, pois isso sim compromete nossa imunidade.

Por fim, deixo uma questão.

O uso de água morna, limão, alho e própolis pode prejudicar a nossa saúde ? Claro que não.

Podemos usar os alimentos para melhorarmos nossa saúde. Porém, o que acho extremamente ineficaz é gastarmos com suplementos e complexos multivitaminicos sem necessidade. Vamos usar a inteligência e investir numa boa nutrição.

Minha mensagem final

Tenha uma alimentação diversificada. Tome bastante água.

Tente manter o sono adequado. Cozinhe mais, peça menos delivery.

Evite alimentos prontos e industralizados.

Faça as refeições em família (logicamente pra quem estiver com seus familiares).

Mantenha a atividade física. Muitos educadores físicos estão se disponibilizando e adequando  os treinos para esse momento . Peça ajuda profissional.

Alimentos que temos que priorizar

  • Vitamina D: peixes, ovos;
  • Vitamina E: azeite de oliva extra virgem, castanhas, , semente de girassol, abacate;
  • Vitamina A: cenoura, batata doce, folhas de brócolis, manga, couve;
  • Vitamina C: kiwi, goiaba, brócolis, frutas cítricas, frutas vermelhas, talos da couve, salsa;
  • Zinco: sementes, castanhas, amêndoas, cereais integrais;
  • Ômega-3: peixes, castanhas, amêndoas, nozes, sementes;
  • Compostos bioativos (antioxidantes e anti-inflamatórios): frutas, verduras, legumes e sementes em geral;
  • Prebióticos (cebola, alho, farinha de banana verde, batata doce, batata yacon) e fibras (cereais integrais, frutas, verduras, legumes, sementes) para a saúde do intestino;
  • Ervas e especiarias: chá verde, gengibre, cúrcuma, alho

 

Renata Rudoi Schwartz
Nutricionista Clinica e Esportiva CRN 7396

 

Referencias Bibliográficas

Hemilä Harri, Chalker Elizabeth, Treacy Barbara, Douglas Bob. Vitamin C for preventing and treating the common cold. Cochrane Database of Systematic                         Reviews. In: The Cochrane Library, Issue 11, Art. No. CD000980. Disponível em: http://cochrane.bvsalud.org/doc.php?db=reviews&id=CD000980&lib=COC.

Sassi F, Tamone C, D’Amelio P (2018) Vitamin D: Nutrient, Hormone, and Immunomodulator. Nutrients, 10(11). pii: E1656. Fritsche, K. Fatty acids as modulators of the immune response. Annual Review of Nutrition; 26: 45–7, 2006.

De Pablo. Modulatory effects of dietary lipids on immune system functions. Immunology and Cell Biology; 78: 31-39, 2000.

Thies, F. Dietary Supplementation with γ-Linolenic Acid or Fish Oil Decreases T Lymphocyte Proliferation in Healthy Older Humans. The Journal of Nutrition; 1918-1927, 2001.